IPCC: Crise climática já agrava secas, tempestades e temperaturas extremas
O Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU (IPCC na sigla em inglês) divulgou pela primeira vez, um relatório apontando o aumento da frequência e da intensidade dos eventos extremos ligados às mudanças climáticas. O documento, que apresenta as bases da ciência física do clima, foi divulgado nesta segunda-feira (9), assinado por 234 autores de 65 países.
A ciência climática já previa nas últimas décadas o aumento de eventos extremos, como tempestades, enchentes, furacões, ciclones, secas prolongadas e ondas de calor. Agora, com modelos computacionais mais modernos, passou a ser possível atribuir o grau de influência das mudanças climáticas nesses eventos, calculando-se quantas vezes mais frequentes e mais intensos eles se tornam em função do aquecimento global.
Ondas de calor já triplicam no mundo atual em comparação com o período de 1850 a 1900 —antes das atividades humanas aumentarem a concentração de gases-estufa na atmosfera. Variações extremas de temperatura que aconteciam uma vez por década hoje podem ocorrer 2,8 vezes no mesmo período e devem se tornar anuais em um cenário de 4ºC de aquecimento global, em que as mudanças abruptas de temperatura podem ser mais intensas, chegando a 5,1ºC de variação.
Já as temperaturas extremas mais raras, que ocorriam uma vez a cada 50 anos entre 1850 e 1900, hoje têm probabilidade de ocorrer 4,8 vezes no mesmo período e podem passar a ocorrer 39 vezes em um cenário de mais de 4ºC de aquecimento global.
As chuvas fortes e as secas prolongadas também ficam mais frequentes e mais intensas. No cenário atual, em que o mundo já se aqueceu 1ºC na média global, episódios extremos que ocorriam uma vez por década já podem ocorrer 1,3 vez no caso das tempestades e 1,7 vez para as secas no mesmo período.
O volume de água das tempestades já é 6,7% maior e pode chegar a 30,2% no pior cenário. As secas agrícolas e ecológicas podem ficar até 4 vezes mais presentes em um período de 10 anos, com solos cada vez mais secos, por mais tempo.
As projeções regionais do IPCC mostram aumento das chuvas fortes no Centro-Sul do Brasil, com grandes volumes de água concentrados em até cinco dias de chuva, enquanto o Nordeste e a Amazônia devem sofrer com períodos secos mais prolongados.
No cenário extremo de aquecimento global de 4ºC, além das mudanças serem mais drásticas nos quadros de chuvas fortes e secas, o país também deve ver alterações mais marcantes no volume de precipitação anual, que fica mais escasso na região Norte e mais volumoso no Sul e Sudeste.
Na maior parte do país —região que abrange Norte, Centro-Oeste, Sudeste e parte do Nordeste— há projeções de aumento de secas agrícolas e ecológicas para meados do século, em um cenário de aquecimento global de 2°C.
Com a aridez, também se espera o aumento de climas propícios para incêndios, com impactos para os ecossistemas, a saúde humana, a agricultura e a silvicultura.
Na Amazônia, o número de dias por ano com temperaturas máximas superiores a 35°C aumentaria em mais de 150 dias até o final do século no cenário de aquecimento global superior a 4°C, enquanto se espera que aumente em menos de 60 dias no cenário de aquecimento limitado a 2°C.